Doutora em Psicologia e Mestra em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atualmente realiza pós-doutorado em Psicologia (UFES). Pesquisadora do NECRIAD/UFES (Núcleo de Estudos, Pesquisa e Intervenção com Crianças, Adolescentes e Famílias).
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Vitória, ES, Brasil
Professora Titular do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFES. Doutora em Psicologia Social pela USP e pós-doutora em Desenvolvimento e Família pela Universidade da Carolina do Norte, EUA.
Este artigo tem por objetivo contribuir para a literatura jurídica especializada ao dar voz às vítimas de violência emocional intrafamiliar, compreendendo seus sentimentos ao contarem suas histórias de vida desde a infância. Participaram desta investigação, 12 pessoas com idades entre 18 e 38 anos. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas narrativas e sistematizados com o auxílio do software IRaMuTeQ, a partir da classificação hierárquica descendente, análise de similitude e nuvem de palavras. Sentimentos como angústia, culpa, tristeza e impotência permearam a história dessas pessoas, que sofreram violências como humilhações, xingamentos, violência interparental, alienação parental, abandono afetivo, abandono emocional, negligência, gordofobia, homofobia, além de violência física e sexual em alguns casos. A complexidade dos sentimentos dos participantes passou pelas relações interpessoais entre os familiares, pela reprodução sociais dos papéis da mulher e do homem nos afazeres da casa, bem como pelo desamparo e falta de apoio social.
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